ELÍSIO

1.

Ele colocou a mão no pote e tirou um número.
- Dezenove! Quem tem o número dezenove?... Ninguém?
Olhou mais uma vez em volta, confirmou sua pergunta, e puxou outro papelzinho da caixa:
- Vinte e dois! Quem tem o número vinte e dois...?
Ninguém de novo...
Estava em pé sobre um caixote de papelão, com um terno já meio surrado – só tinha aquele -, segurando um microfone numa mão; a outra mergulhava de vez em vez no bolo de papeizinhos mal dobrados, com a esperança de achar algo que prestasse.
- Quarenta e cinco! – Anunciou, já sabendo que não haveria resposta.
- Cinqüenta e dois! – Sessenta e sente! – Oitenta e nove!
E nada, como sempre.
- Cento e um...! Valendo uma caixa exclusiva de produtos de beleza, para você, minha senhora, nesse dia da mulher... Uma bela caixa de lindos produtos! Cento e um...? Quem tem o cento e um...!?... Ninguém?
Ninguém.
- Então está bem... Lá vou eu tirar outro número... Duzentos! Quem tem o duzentos?
Ninguém.
Elísio continuou lá tirando seus números por mais algumas horas, até que se apagaram as luzes e a loja anunciou seu fechamento. Bem baixinho, para que ninguém ouvisse, nem ele mesmo, soltou então um suspiro de alívio.

SOBRE SER UM SERELEPE:

Acho que não sou muito de Serelepizar (com “z”?) por aí. Pelo menos, se forem fazer uma dessas pesquisas de opinião pelo Brasil afora, eu com certeza estarei num dos últimos lugares da lista. Sério mesmo, se você quer sair por aí para fazer algo Serelepe, o Chiquetto não vai ser o cara ideal (assim como a Hug).
Mas quando digo Serelepe, da forma como escrevi no parágrafo anterior, estou dizendo o vulgo Serelepe... Aquele Serelepe mascarado, Serelepe que no final das contas, não passa de um dorminhoco, zumbi, metido a livre das coisas da vida.

Porque ser Serelepe é algo muito mais profundo.

Ser Serelepe é estar atento, estar procurando, estar se movendo para conseguir aquilo que quer de verdade... É estar escondido e de repente fazer alguma coisa, dar um remelexo tão de repente, que todas as pessoas em volta pensam e comentam “Minha nossa, mas que cara Serelepe!”. Não se engane, não quero dizer que o serelepe seja o salvador da pátria (embora os salvadores da pátria – tanto para o bem quanto para o mal (se é que existe isso)- sempre sejam ultra serelepes); quero dizer que o Serelepe é simplesmente alguém diferente exatamente por ser Serelepe... E quando você conhece um, você logo nota.

E eu compliquei demais isso tudo...!

Mas o fato, é que provavelmente minha amiga/companheira Luisa nem deve ter pensado em nada disso quando decidiu colocar esse nome nesse blog, e eu nem sei se tudo o que escrevi agora é digno de qualquer tipo de reflexão onde quer que se dê a reflexão. Mas eu sei que a Luisa é uma pessoa Serelepe por excelência. Poucas pessoas eu acho tão serelepes quanto ela e, o que quer que realmente signifique ser Serelepe (exclua da sua cabeça toda essa viagem anterior), fiquei muito feliz por ter sido aceito por ela como um deles (mesmo que eu saiba, lá no fundo, que ainda preciso me esforçar muito para conseguir me sentir uma pessoa realmente Serelepe).

Obrigado pela atenção.