Serelepes

quarta-feira, setembro 27

MALDITOS CICLOS

Essas coisas dos ciclos, viu? Sempre me incomodam, mas acho que dá pra pensar sobre tudo isso. Se bem que os ciclos têm mais a ver com sentir, enfim...

Têm momentos lindos nas nossas vidas, momentos em que somos apaixonados, são momentos na maioria das vezes tristes – e é principalmente por isso que são lindos – só que para fugir dessa tristeza (ou dessa beleza), nós teimamos em nos acomodar, teimamos em pôr nosso amor na rotina, e aí ele fica oco. Acontece que alguns amores nunca fogem, nunca vão sumir. Sair da rotina dá medo porque ao fazermos isso somos colocados de volta cara-a-cara com esses ciclos malditos, esses amores que nunca se vão; e aí tudo volta a se complicar e ficar bonito e triste (e portanto, feliz). Sair da rotina é complicado porque nem sempre estamos a fim de lidar novamente com nossas vidas, ou nem sempre temos tempo para tanto.

Sair da rotina é também não saber direito para onde ir.

Sair da rotina é deixar algo muito importante para trás.

Sair da rotina é terminar relacionamentos, falir um negócio, ter coragem de passar num vestibular, ter coragem de quebrar a cara, ter coragem de não ter mais um amor oco.

Sair da rotina é voltar a tentar viver com intensidade, mesmo sabendo que isso é quase impossível.

Quebramos um ciclo para criar outro, e quando esse outro vira rotina, quebramos de novo, e quando o outro novo vira rotina, temos que quebrar de novo, e vai ser assim até nos cansarmos de quebrar os ciclos, ou morrermos. Viver quebrando ciclos é viver criando e saindo de rotinas.

.......... Quero sair da rotina.
E queria uma forma de escapar desses ciclos.

quarta-feira, setembro 20

Tá tudo errado

Há algum tempo que queria comprar cordas novas para o meu violão, um que ganhei do meu pai – e é muito bom. Sabe quando ele não afina mais muito bem, quando o som está meio estranho, então, isso é corda velha; então, como disse, queria trocá-las!

Sedento pelas tais cordas, estava na companhia das cordas e perguntei pra Camila se “Aí tem corda de violão?”, ela olhou pra mim com aquele olhar e respondeu:
- Só tem essa.
Me deu um pacote de cordas da Giannini, que exibia na frente um “Série MPB”. Olhei para o “Série MPB” e senti atanta afinidade – acho que principalmente pela cor verde-limão envolta por um preto bem brilhante – que deixei escapar algo incrível ao meu senso crítico: um estranho e destoante “Preto – Ouro com Bolinha”.

Se tem uma coisa que eu sempre paguei um pau nos violões – e digo isso como guitarrista convicto – é o nozinho que as cordas dão naquele troço de madeira na qual você as enfia... Um nozinho incrivelmente lindo, artístico mesmo, sabe? Ele dá para o violão aquele “Quê” de Instrumento Acústico e Bem-Feito que só os instrumentos acústicos e bem-feitos têm. Ele é incrível, e é artesanal... Você sente como se estivesse montando o seu som quando troca as cordas do violão, dá aquele nozinho bem no seu estilo, enfim, é só você e ele ali, sem o mundo ao seu redor!
Então, abri o plastiquinho de proteção das cordas e num gesto totalmente automático, peguei a mi aguda (uma horrível corda preta que quase me fez vomitar) e a coloquei no instrumento, para só então depois perceber que faltou algo. O Nozinho. Ou seja: A corda tinha bolinhas. A corda tinha bolinhas!

Bolinhas!

Ter bolinhas significa que a corda vem com um dispositivo muito prático e simples para que fique devidamente presa, sem nós, que nem corda de guitarra. E ainda por cima estava escrito no pacote que elas eram cordas feitas especialmente para os profissionais da música brasileira, com o comprimento já definido para a melhor performance do instrumento! Eles definiram o comprimento das minhas cordas! Que audácia!

Não tive dúvidas, cortei todas as bolinhas e coloquei todas as cordas do meu jeito.

Depois de tudo, toquei o violão e percebi que eram uma porcaria as cordas preto-ouro com bolinha... Não só pelo fato delas serem preto-ouro com bolinha, mas principalmente pelo fato de serem com bolinhas, pretas as agudas, duradas as graves, e de som seco, chato.

Pra violão ruim.