Serelepes

quarta-feira, março 22

ELÍSIO

1.

Ele colocou a mão no pote e tirou um número.
- Dezenove! Quem tem o número dezenove?... Ninguém?
Olhou mais uma vez em volta, confirmou sua pergunta, e puxou outro papelzinho da caixa:
- Vinte e dois! Quem tem o número vinte e dois...?
Ninguém de novo...
Estava em pé sobre um caixote de papelão, com um terno já meio surrado – só tinha aquele -, segurando um microfone numa mão; a outra mergulhava de vez em vez no bolo de papeizinhos mal dobrados, com a esperança de achar algo que prestasse.
- Quarenta e cinco! – Anunciou, já sabendo que não haveria resposta.
- Cinqüenta e dois! – Sessenta e sente! – Oitenta e nove!
E nada, como sempre.
- Cento e um...! Valendo uma caixa exclusiva de produtos de beleza, para você, minha senhora, nesse dia da mulher... Uma bela caixa de lindos produtos! Cento e um...? Quem tem o cento e um...!?... Ninguém?
Ninguém.
- Então está bem... Lá vou eu tirar outro número... Duzentos! Quem tem o duzentos?
Ninguém.
Elísio continuou lá tirando seus números por mais algumas horas, até que se apagaram as luzes e a loja anunciou seu fechamento. Bem baixinho, para que ninguém ouvisse, nem ele mesmo, soltou então um suspiro de alívio.