Serelepes

quinta-feira, outubro 26

Um sonho antigo...

Lembro que no começo, um homem de cabelos negros, compridos, escorridos... até um pouco mais que o ombro; meio velho, um pouco queixudo e bem magro, vestido de preto; sofria muito com suas unhas que estavam sendo arrancadas por quem eu penso lembrar ser uma velha. Mas não lembro de tê-la visto no sonho.

Ele estava em um lugar escuro, algo parecido com um nada, e o sangue que saía da ponta de seus dedos era tanto que esparramava na parede, uma parede que eu não conseguia ver, mas que estava lá, porque dava pra ver o liquido brilhando de tão vermelho nela. Então, me vi fugindo desse homem... Corri muito, encontrei algumas pessoas que me aconselharam a me esconder em algo parecido com uma estação, ou um galpão... E era noite. Noite úmida.

Entrei lá e fiquei esperando... Acho que nessa hora eu já tinha uma idéia de que quem era que estava me perseguindo... Fiquei esperando, ansioso, até que apareceu. Entre a fresta da porta do galpão, por onde entrava uma luz estranhamente branca demais, vi primeiro a sombra, depois os contornos... Estava em um lugar alto e bem distante, mas consegui entender que aquele rosto, era o seu; que aquele corpo, era o seu, que aqueles cabelos e aquelas unhas, eram as suas.

Levei um susto tão repentino que acordei. Pensei em você, fiquei confuso, tentei raciocinar, mas não consegui.
E então, dormi novamente.

quarta-feira, setembro 27

MALDITOS CICLOS

Essas coisas dos ciclos, viu? Sempre me incomodam, mas acho que dá pra pensar sobre tudo isso. Se bem que os ciclos têm mais a ver com sentir, enfim...

Têm momentos lindos nas nossas vidas, momentos em que somos apaixonados, são momentos na maioria das vezes tristes – e é principalmente por isso que são lindos – só que para fugir dessa tristeza (ou dessa beleza), nós teimamos em nos acomodar, teimamos em pôr nosso amor na rotina, e aí ele fica oco. Acontece que alguns amores nunca fogem, nunca vão sumir. Sair da rotina dá medo porque ao fazermos isso somos colocados de volta cara-a-cara com esses ciclos malditos, esses amores que nunca se vão; e aí tudo volta a se complicar e ficar bonito e triste (e portanto, feliz). Sair da rotina é complicado porque nem sempre estamos a fim de lidar novamente com nossas vidas, ou nem sempre temos tempo para tanto.

Sair da rotina é também não saber direito para onde ir.

Sair da rotina é deixar algo muito importante para trás.

Sair da rotina é terminar relacionamentos, falir um negócio, ter coragem de passar num vestibular, ter coragem de quebrar a cara, ter coragem de não ter mais um amor oco.

Sair da rotina é voltar a tentar viver com intensidade, mesmo sabendo que isso é quase impossível.

Quebramos um ciclo para criar outro, e quando esse outro vira rotina, quebramos de novo, e quando o outro novo vira rotina, temos que quebrar de novo, e vai ser assim até nos cansarmos de quebrar os ciclos, ou morrermos. Viver quebrando ciclos é viver criando e saindo de rotinas.

.......... Quero sair da rotina.
E queria uma forma de escapar desses ciclos.

quarta-feira, setembro 20

Tá tudo errado

Há algum tempo que queria comprar cordas novas para o meu violão, um que ganhei do meu pai – e é muito bom. Sabe quando ele não afina mais muito bem, quando o som está meio estranho, então, isso é corda velha; então, como disse, queria trocá-las!

Sedento pelas tais cordas, estava na companhia das cordas e perguntei pra Camila se “Aí tem corda de violão?”, ela olhou pra mim com aquele olhar e respondeu:
- Só tem essa.
Me deu um pacote de cordas da Giannini, que exibia na frente um “Série MPB”. Olhei para o “Série MPB” e senti atanta afinidade – acho que principalmente pela cor verde-limão envolta por um preto bem brilhante – que deixei escapar algo incrível ao meu senso crítico: um estranho e destoante “Preto – Ouro com Bolinha”.

Se tem uma coisa que eu sempre paguei um pau nos violões – e digo isso como guitarrista convicto – é o nozinho que as cordas dão naquele troço de madeira na qual você as enfia... Um nozinho incrivelmente lindo, artístico mesmo, sabe? Ele dá para o violão aquele “Quê” de Instrumento Acústico e Bem-Feito que só os instrumentos acústicos e bem-feitos têm. Ele é incrível, e é artesanal... Você sente como se estivesse montando o seu som quando troca as cordas do violão, dá aquele nozinho bem no seu estilo, enfim, é só você e ele ali, sem o mundo ao seu redor!
Então, abri o plastiquinho de proteção das cordas e num gesto totalmente automático, peguei a mi aguda (uma horrível corda preta que quase me fez vomitar) e a coloquei no instrumento, para só então depois perceber que faltou algo. O Nozinho. Ou seja: A corda tinha bolinhas. A corda tinha bolinhas!

Bolinhas!

Ter bolinhas significa que a corda vem com um dispositivo muito prático e simples para que fique devidamente presa, sem nós, que nem corda de guitarra. E ainda por cima estava escrito no pacote que elas eram cordas feitas especialmente para os profissionais da música brasileira, com o comprimento já definido para a melhor performance do instrumento! Eles definiram o comprimento das minhas cordas! Que audácia!

Não tive dúvidas, cortei todas as bolinhas e coloquei todas as cordas do meu jeito.

Depois de tudo, toquei o violão e percebi que eram uma porcaria as cordas preto-ouro com bolinha... Não só pelo fato delas serem preto-ouro com bolinha, mas principalmente pelo fato de serem com bolinhas, pretas as agudas, duradas as graves, e de som seco, chato.

Pra violão ruim.

sábado, agosto 26

Elísio - continuação

Elísio apagou as luzes da loja e saiu, sentindo o cheiro de chuva que sempre era tão bom, qualquer coisa de água misturada com poluição. Gostava de ver os carros passando na rua e espalhando umas gotinhas de água para não-sei-onde, gostava do barulho que saía daí também. Sentindo-se bem, acenou para os que estavam esperando o temporal ir embora e foi-se, o paletó surrado se encharcando, pelo menos não precisaria mais ser lavado.
Andou um tantinho até chegar à porta de baixo do prédio de seu ap., destrancou-a e subiu as escadas para que chegasse ao corredor correto, deu um tchauzinho para a vizinha gostosa que se amassava com mais um de seus amantes e entrou na kitnet que hoje cheirava como sempre cheirou desde que foi morar lá, há mais ou menos uns quatro, cinco anos... Colocou a chaleira no fogo, tirou o paletó surrado, encostou as chaves em cima da T.V velha e sentou na cama, já ouvindo os gemidos da vizinha gostosa do outro lado da parede. Ele sentia muito desejo por ela, muito mesmo; algum dia ainda ia comê-la.
E não pôde deixar de notar que a água da chaleira ferveu no instante em que a vizinha gostosa gritou seu gozo – é, ele ainda iria comê-la. Passou o café, tomou, foi dormir.

terça-feira, agosto 15

Só Detalhes

Corre, corre, corre
Meu garoto
E vê se esconde
De sí mesmo
Meu garoto
Os detalhes
Dessa vida

Dessa vida, vida
Sem lugares com lugares
Sem espaços
Os detalhes, os detalhes
Que se escondem

E vê se sorri
Que um hidrante ou um carro colorido não se vê todo dia
E vê se sorri
Que o sorriso, meu garoto
É só um detalhe dessa vida.

quarta-feira, agosto 9

Professor

Ser professor é uma coisa interessante...

Hoje foi a primeira aula do semestre do Ilha de Vera Cruz, e uma aluna me perguntou do que era constituída a música.E eu simplesmente não sabia o que responder, aí tive uma idéia... pedi para eles fecharem os olhos e escutarem os barulhos em volta, então pedi para prestarem atenção no ventilador, fiz uma cena com as mãos e perguntei se aquele barulho não lembrava música. E aí eles incrívelmente captaram a mensagem, e até vi alguns olhos brilharem! Momentos como esses me fazem cada vez mais querer ser professor.
Quando eu dou aula, simplesmente me empolgo, começo a falar, falar... as palavras vão chegando tão rápido que eu nem consigo acompanhá-las. Quando percebo, estou em outra freqüência, falando, falando... e as pessoas estão prestando atenção! É muito bom quando prestam atenção, quando olham pra gente e simplesmente dá pra perceber que se está conseguindo passar a mensagem que se quer. Gosto mais de dar aulas do que de conversar, embora a aula seja uma conversação, é uma conversação diferente... é uma conversação muito parecida com uma apresentação de música - aliás, adoro me apresentar, cantar pros outros, mostrar minhas músicas.

Acho que sou meio egocentrico.

Mas se é um egocentrismo que me faz bem, e que eu percebo que não faz mal a ninguém, então vou continuar sendo egocentrico. O mais legal, é que esse egocentrismo me faz aprender muito... Aprendo muita coisa com meus alunos do Ilha, aprendo muita coisa quando toco em público e vejo a reação das pessoas ouvindo as músicas. Aprendo muita coisa quando me relaciono com os outros. E acho que dar aulas é a minha melhor forma de me relacionar. Formo amizades, crio laços, adentro e sou adentrado. Convivo.
Uma vez apresentei minha monografia e perguntei para a Renata depois da apresentação o que ela tinha achado, ao que respondeu "Você tem jeito de que vai ser um daqueles professores que são referência.". Fiquei muito feliz, acho que foi o maior apoio que já me deram.

Desde a primeira vez que alguém me chamou de "professor", senti que achei minha vocação, de verdade.

Ser professor, me faz feliz.

Quero ser sempre professor.

quarta-feira, agosto 2

Blame It On My Youth

Existem alguns momentos que passam em branco, uns que você só acredita que de fato viveu, por vê-los impressos numa foto qualquer.
E tem uns que, mesmo assim, fica difícil... Momentos não são como músicas e textos ruins que você simplesmente pode sair por aí cantarolando ou recitando... Momentos são simplesmente momentos. E o foda é que, por mais que tentemos segurá-los em algum lugar, eles sempre fogem. Na verdade, existem músicas e textos que são que nem momentos, e essas são as maiores obras-primas, e talvez esteja aí a dificuldade em fazer um bom poema ou uma boa música, já que é muito difícil não cair no facilmente lembrável. O Jazz é uma música do momento, mas só uma grande minoria de seus compositores consegue de fato, carregar o momento consigo. E o que nos orgasma no Jazz do momento, é que simplesmente não conseguimos entender como aquela música é tão intocável, tão presente e ao mesmo tempo tão furtiva, como um momento, tão fácil de se esquecer, mas que nos traz tantas memórias.
O Jazz foi só um exemplo.
E viver a vida intensamente cada momento é tentar ser que nem a música do momento, o texto do momento, mas não o momento superfícial, e sim o momento intenso, inexplicável e furtivo, que é impossível de se alcançar levianamente, com ou sem drogas. Alcançar o momento vem da sensibilidade de cada um, e são poucos que conseguem fazê-lo. Já algumas vezes tive a oportunidade de conseguir, por uns milésimos, chegar no momento... Mas não sei mantê-lo, e muito menos explicá-lo. Talvez seja por isso que não consigo de fato gostar das minhas músicas, textos, etc. Porque eles não passam o que de fato sinto, salvo algumas poucas excessões que quase chegaram lá (como aquele texto do suicídio). O problema é que me sinto complicado demais, e minha complicação elimina o momento, que é a coisa mais simples do mundo.
Lembrar de momentos também é muito difícil...! Uma boa técnica, é tentar sentir do cheiro da sua lembrança, porque o cheiro é algo quase impossível de se lembrar, e se você conseguir sentí-lo enquanto lembra, é porque aquele momento realmente foi muito importante e intenso... Por exemplo, sei exatamente do cheiro da casa da minha vó quando chegava lá de manhã e abria a porta. Um cheiro de café misturado com casa da minha vó, inconfundível - talvez seja por isso que gosto tanto de café, porque ele me traz a casa da minha vó. Também outro dia consegui sentir o cheiro de uma lembrança de um curso de animação que fiz em 2004, e que foi muito importante para mim...
Tem uns cheiros que quase consigo lembrar - cheiro de penedo, cheiro da Renata, cheiro dos ensaios da ópera... cheiro de menstruação. E outros cheiros. E quando finalmente consigo lembrar do cheiro, uma avalanche de recordações me invade e aí fico horas deitado na cama sentindo saudades e muita alegria por ter aquilo tão vivo em mim outra vez.
Mas para dezenove anos de vida, alguns poucos momentos que consigo lembrar me mostram como sou bitolado. Uma grande parte do meu tempo foi perdida na t.v, outra grande parte, no computador ou no video-game. Mas a maior parte mesmo, foi na vida.
Viver intensamente cada momento é algo quase impossível hoje em dia. Eu tenho minhas convicções, minhas idéias, minhas paixões, mas sinto falta dos meus momentos. Todo mundo deve sentir.
O que eu mais quero na vida é que quando estiver às portas da morte, não sinta falta de mim. Desses meus momentos.

sábado, julho 29

Aêêê mano...!

29/07/2007 - Pseudo combinado feito.

domingo, julho 23

Pensamento de ônibus...

A beleza nunca só é estética,
E é a partir do momento em que nos tiram da beleza tudo o que dela não é estético, que devemos entender que as coisas vão mal...

quarta-feira, junho 21

Respondendo ao coment da Hug...

Tenho percebido que ando mais brando com as minhas indignações
Parece que tenho observado mais as coisas por aí...