Existem alguns momentos que passam em branco, uns que você só acredita que de fato viveu, por vê-los impressos numa foto qualquer.
E tem uns que, mesmo assim, fica difícil... Momentos não são como músicas e textos ruins que você simplesmente pode sair por aí cantarolando ou recitando... Momentos são simplesmente momentos. E o foda é que, por mais que tentemos segurá-los em algum lugar, eles sempre fogem. Na verdade, existem músicas e textos que são que nem momentos, e essas são as maiores obras-primas, e talvez esteja aí a dificuldade em fazer um bom poema ou uma boa música, já que é muito difícil não cair no facilmente lembrável. O Jazz é uma música do momento, mas só uma grande minoria de seus compositores consegue de fato, carregar o momento consigo. E o que nos orgasma no Jazz do momento, é que simplesmente não conseguimos entender como aquela música é tão intocável, tão presente e ao mesmo tempo tão furtiva, como um momento, tão fácil de se esquecer, mas que nos traz tantas memórias.
O Jazz foi só um exemplo.
E viver a vida intensamente cada momento é tentar ser que nem a música do momento, o texto do momento, mas não o momento superfícial, e sim o momento intenso, inexplicável e furtivo, que é impossível de se alcançar levianamente, com ou sem drogas. Alcançar o momento vem da sensibilidade de cada um, e são poucos que conseguem fazê-lo. Já algumas vezes tive a oportunidade de conseguir, por uns milésimos, chegar no momento... Mas não sei mantê-lo, e muito menos explicá-lo. Talvez seja por isso que não consigo de fato gostar das minhas músicas, textos, etc. Porque eles não passam o que de fato sinto, salvo algumas poucas excessões que quase chegaram lá (como aquele texto do suicídio). O problema é que me sinto complicado demais, e minha complicação elimina o momento, que é a coisa mais simples do mundo.
Lembrar de momentos também é muito difícil...! Uma boa técnica, é tentar sentir do cheiro da sua lembrança, porque o cheiro é algo quase impossível de se lembrar, e se você conseguir sentí-lo enquanto lembra, é porque aquele momento realmente foi muito importante e intenso... Por exemplo, sei exatamente do cheiro da casa da minha vó quando chegava lá de manhã e abria a porta. Um cheiro de café misturado com casa da minha vó, inconfundível - talvez seja por isso que gosto tanto de café, porque ele me traz a casa da minha vó. Também outro dia consegui sentir o cheiro de uma lembrança de um curso de animação que fiz em 2004, e que foi muito importante para mim...
Tem uns cheiros que quase consigo lembrar - cheiro de penedo, cheiro da Renata, cheiro dos ensaios da ópera... cheiro de menstruação. E outros cheiros. E quando finalmente consigo lembrar do cheiro, uma avalanche de recordações me invade e aí fico horas deitado na cama sentindo saudades e muita alegria por ter aquilo tão vivo em mim outra vez.
Mas para dezenove anos de vida, alguns poucos momentos que consigo lembrar me mostram como sou bitolado. Uma grande parte do meu tempo foi perdida na t.v, outra grande parte, no computador ou no video-game. Mas a maior parte mesmo, foi na vida.
Viver intensamente cada momento é algo quase impossível hoje em dia. Eu tenho minhas convicções, minhas idéias, minhas paixões, mas sinto falta dos meus momentos. Todo mundo deve sentir.
O que eu mais quero na vida é que quando estiver às portas da morte, não sinta falta de mim. Desses meus momentos.